sexta-feira, 27 de março de 2020

Entrevista com Pedro Chê – Policial Cívil, líder do Movimento de Policiais Antifascismo

Pedro Chê, Policial Civil, entrou na corporação em 2012. Se tornou membro do Movimento em 2017, sendo o Representante Estadual. Ja foi Diretor do Sindicato de Policia Civil, bem como da Federação (Regional Nordeste). Foi membro Convidado do Fórum de Segurança Publica/RN. Participou da Equipe de Transição do Governo Fátima na Área de Segurança Pública.  Para entender mais sobre o assunto, o Trip TimeShare traz uma pequena entrevista com maiores detalhes sobre o movimento.

Para entender mais sobre o assunto, o Trip TimeShare traz uma pequena entrevista com maiores detalhes sobre o movimento.


TTS – O que é o movimento não corporativo de Policiais Antifacismo?
PC - Somos uma reunião de policiais, operadores da segurança pública que nos unimos com o objeto de promover uma mudança na Segurança Pública como um todo. Somos movimento, não uma associação ou sindicato, e essa mudança não se dá apenas no nome, mas nos objetivos e fins de nossas ações. Embora algumas vezes nossas pautas sejam até as mesmas, em pedidos específicos, em outras não, pois nossa atuação se dá de forma muito mais firme para uma melhoria do serviço, não sendo negociado, e não em buscas de transformações que apenas para os interesses dos policiais, não tendo ganhos para a sociedade.

TTS – O que levou vocês a criarem o grupo? Quem os lidera?
PC - O movimento foi criado a partir da insatisfação de muitos policiais com a forma da execução do serviço. São policiais que gostam de sua identidade, mas pensam que o atuar policial no Brasil é dissociado ao que significa ser policial, por exemplo, a defesa das leis quanto tantos operadores sugerem que as leis são inimigas do trabalho dos policiais, bem, o trabalho dos policias é a defesa das leis, há muita confusão e ela tem que ter um término, pois quem paga por isso principalmente é a população. Não temos uma liderança, atuamos de forma colegiada, estamos presentes em 20 estados, cada um com autonomia em sua gestão.

TTS - Quais são os principais problemas do atual sistema de segurança pública que vigora no Brasil?
PC - Eu teria muito para falar, mas podemos centrar em três questões: As Estruturas da Segurança Pública, a Percepção que a população tem sobre o que é o trabalho policial e a Política de Guerra às Drogas. Temos instituições muito mal formuladas, e centralmente a questão da cultura militar nas instituições, não só a Polícia Militar. Temos a população que não se decide sobre que tipo de polícia quer, aliás, não entende bem ao que deveria servir uma polícia, pois entende que combate a criminalidade, mas endossa que o faça inclusive por vias ilegais, ou seja, no final, pragmaticamente, seria criminoso combatendo criminoso, ou seja, é uma lógica fadada ao fracasso. Quanto a Política de Guerra as Drogas, pensamos que o estado tem de tirar seu foco da segurança pública e repassá-lo para a Saúde Pública. O combate como se faz é interesse dos grandes traficantes, que moram em mansões, fazem parte das elites locais e vitima os usuários e pequenos traficantes, sem resolver nenhum dos problemas que se espera combater.


TTS - A militarização e a flexibilização da legislação que versa sobre o porte e a posse de armas é uma forma de reduzir os índices de criminalidade?
PC – Tanto a militarização como uma liberação maior da posse ou porte de armas de fogo não são respostas para o problema da segurança pública, na verdade esses dois elementos devem ser considerados como problemas para o Sistema. O militarismo produz uma instituição policial que se vê muitas vezes como algo diferente à população, ao mundo civil, o que produz uma grande dificuldade de diálogo e inclusive de respeito aos direitos e garantias. Fora que esse mesmo militarismo, que engessa as relações fora, também as fazer internamente, então o policial que entende que não precisa ouvir, dentro do quartel não tem voz, tendo até de pedir permissão para falar, ou seja, leva naturalmente a arbitrariedade, ao desrespeito, numa perspectiva antidemocrática e distanciada da comunidade, não tendo seu apoio e respeito, mas quando muito temor. As armas são um problema mais claro, entre 70% e 80% dos homicídios ocorrem com uso de armas de fogo, 50% dos assaltos da mesma forma e 70% das armas que temos no país são de fabricação nacional, ou seja, nos “criamos” nossos próprios problemas, são as armas feitas e comercializadas aqui que depois caem na mão dos bandidos. Fora que, estar armado traz mais insegurança do que segurança, policiais têm o índice de mortandade três vezes maior que a população comum, e tais não acontecem no serviço, mas fora, sem farda, estando a maioria das vezes armados, chegando em casa, em bicos ou em eventos sociais.

TTS - Quais mudanças poderiam ser feitas nas polícias brasileiras, e no sistema de segurança pública?
PC – Sendo bem breve, desmilitarizar é uma mudança que não dá para se abrir mão, mas também que todas as policiais tenham só uma forma de ingresso, hoje, por exemplo, na Polícia Civil você pode fazer concurso para agente/escrivão, ou para os cargos hierarquicamente superiores, como de Delegado, somos contrários, pois causa muitos problemas, inclusive na eficiência do serviço, divide a equipe, e põe a liderança não o melhor policial, mas o que tem mais conhecimentos em áreas que pouco influem na dinâmica do trabalho. Para terminar, há muitas mudanças, mas há uma simbólica que gostaria de citar, uma formação única e continuada das polícias, com participação direta de organizações sociais e comunidade, é importante essa abertura, para acabar com essa forma isolada e as vezes arbitrária de se pensar polícia.


TTS – Onde entra o grupo formado no Rio Grande do Norte?
PC - Nossa função é propor ao Poder Público, nossa função é discutir internamente na polícia que rumos queremos seguir, se queremos cada vez mais nos profissionalizamos, ou se o caminho é outro, e também falar a sociedade os conhecimentos, questões relacionadas à segurança pública para que essa assuma para ela a discussão e se junte a nós na busca pelas mudanças necessárias.

TTS – Quais os principais obstáculos para o movimento hoje, no Brasil e no RN?
PC – Temos um grande problema, uma cultura centenária de fazer segurança pública, se pensa e se age de formas muito parecidas, e grande parte dos policiais, mesmo sendo críticos a ela, a defendem com unhas e dentes, como se fosse internalizado entre eles, que mesmo fracassada só há essa forma de fazer, que o resto não passa de ilusões. Só que eles não percebem que não é por causa do povo brasileiro que temos a pior segurança pública do mundo, dentre as muitas coisas que colaboram, há uma decisiva, como fazermos. E quem surge a criticar, questionar, naturalmente é hostilizado, o que é natural, ninguém gosta de ser contrariado e nem de pensar que o que faz está errado ao ponto de até ser imoral, ou um crime, tudo isso é naturalizado de uma forma que o policial as vezes acha verdadeiramente que pode agir à margem da lei.

TTS – Aqueles que quiserem aderir deverão entrar em contato com quem? Existe uma rede social do grupo?
PC – Somos abertos não só a policiais que queiram fazer parte, mas também a toda a sociedade. Hoje em vários de nossos espaços temos pessoas que não são operadores, e temos essa intenção de reunir a maior quantidade de forças possível. Temos Facebook (Policiais Antifascismo RN), Instagram (@policiaisantifascismorn), e podem entrar em contato conosco pelo Whatsapp também, número 84 – 981667224.


TTS – Onde a população poderá acompanhar as ações do movimento?
PC – Por esses mesmos canais, bem como por nosso canal no youtube: Policiais Antifascismo/RN.

TTS - Há algo que queira acrescentar?
PC – Que a gente discuta essas questões, como tantas outras, através de conhecimento, e visando o bem comum. Quando a pessoa, autoridade, fala de forma apaixonada, grande chance de estar errado, mas também não pode tratar essas discussões de forma fria, a nossa crise da segurança pública produz cerca de 60 mil mortos, ou seja, há muitas famílias e pessoas envolvidas, dessa forma que a paixão esteja apenas nas nossas intenções, não nas políticas públicas, essas tem que se pautar pela eficiência e pelo respeito aos cidadãos.

2 comentários:

  1. Boa noite companheiro "Che" & Correligionários... É com imenso orgulho, compartilhar das idéias do Movimento e ter como referência, o diálogo democrático de luta em prol dos Direitos Humanos... Abraço!!!

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  2. Eu visto essa camisa.
    Parabéns,pelo trabalho.

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