domingo, 5 de abril de 2020

Entrevista | Celso Cruz, administrador da Pousada do Cruzeiro e poeta de Currais Novos - RN

Natural de Currais Novos – RN, Celso Cruz é administrador de uma das pousadas mais charmosas do Rio Grande do Norte na sua cidade natal, além de poeta, músico, escritor, compositor, autor de textos teatrais, amante da gastronomia e apaixonado pelo turismo.


O Trip TimeShare tem o prazer de entrevistá-lo.

TTS - Celso, para começar, gostaríamos de saber como se deu sua paixão pela poesia?

Não sei se a poesia me escolheu
Ou eu escolhi a poesia
A minha alma vadia
De complô com o coração
Driblou a minha razão
Que andava um tanto inquieta
Percebendo que me afeta
Essa tal de solitude
Teve a magnitude
De querer tornar-me poeta

Sei que algo em mim mudou
Depois do acontecido
Um meu eu adormecido
Agora sonha acordado
Não vejo nada de errado
E também não fico aflito
Se fecho os olhos levito
Meu corpo transpira emoção
E aos olhos do coração
O feio fica bonito

No próximo enxergo virtudes
Que antes não enxergava
Andando por onde andava
Vejo mais vida, mais cor
Em tudo eu ponho amor
Só briguei com a solidão
De braços com a gratidão
Só a alegria me afeta
Mas descobri não ser poeta...
Poeta é o meu coração.

TTS - Sabido que tem uma parte de seu material poético publicado em blogs e sites como do Brasil. Pergunto: você acha que os meios eletrônicos são uma forma de divulgação moderna que ameaça o livro impresso? Como, a partir desses meios, podemos pensar numa modernização literária?

Não acredito no desaparecimento do livro impresso diante dos livros digitais. Não vejo uma versão superior a outra pois, cada leitor busca encontrar o que precisa na forma que mais se adéqua as suas necessidades, e tende a escolher a que lhe deixa mais confortável.

Quando opto por uma leitura mais condizente com o que busco nas páginas de um livro, que é o relaxamento, o prazer trazido pela solitude, a concentração no que procuro, a interação com o que estou lendo, a necessidade de não desviar-me do objetivo, a parte sensorial do folhear,  corro atrás de um bom e velho livro impresso, que não tem fundo de tela brilhoso, nem janelinha do Whatts, do instagram, do face, diminuindo assim a possibilidade da interrupção e uma conseqüente desconcentração.

Quanto a modernização literária já acontece com o avanço dos meios da tecnologia.

TTS - Você já publicou algum material, como se deu esse processo?

Já escrevi alguns livros, peças de teatro e algumas composições solo e em parcerias várias.

Algumas músicas foram gravadas, outras permanecem aguardando oportunidade e tive publicações em diversos Blogs e Revistas como Deguste, Bares & Restaurantes, Mundo Poético.

Algumas peças foram encenadas em Currais Novos, Belo Horizonte, São Paulo e tenho diversos livros aguardando oportunidade para serem editados.


Meu último livro lançado foi Força Poética.

A poesia é rica em suas nuances
Nos transporta para um mundo diferente
A riqueza rítmica é envolvente
Nos faz bailar na musicalidade
Contida sempre de criatividade
E uma forte dimensão estética
Que favorece surgir uma dialética
Do singular olhar de cada coração
É a riqueza da contraposição
Que dá realce à força poética

Mergulhando desnudo num poema
Buscando obter compreensão
Captando o sentido, a expressão
O contido em cada entrelinha
O coração ao eu sempre se alinha
E de mãos dadas viajam ao inconsciente
E assim de uma forma congruente
Resulta em um novo aprendizado
O leitor ao poeta entrelaçado
Num entender muitas vezes diferente

Num poema os sentimentos negativos
Se enxerga com mais suavidade
Os diferentes convergem pra igualdade
Na viagem pela arte da poesia
O anoitecer ganha brilho como o dia
O alvorecer surge sempre com mais cor
É terapêutico já que ameniza a dor
Dá mais verdade e mais beleza ao sorriso
Vem a ser a precisão do impreciso
É com certeza a linguagem do amor.

TTS – Em que o turismo influenciou seu lado escritor e por que sua preocupação em falar sempre que viajar bom pra tudo e pra todos?

Viajar é mais que preciso
Viajar é sonhar colorido
É dar a vida sentido
Não deixar a vida fugir
Sem dela usufruir
É um sonhar acordado
É tornar-se aculturado
É ver e é ser gente
Ser do igual o diferente
Ser do viver um apaixonado

É ver o mundo evoluindo
E compreender sua evolução
Com os olhos do coração
Entender toda beleza
É descobrir a grandeza
É dar a vida mais cor
É o brilho, a pompa, o esplendor
É estar aberto ao novo
É compreender cada povo
Ser um eclético sabedor

É a socialização
A realidade do sonhar
A felicidade do acordar
É sentir-se compreendido
É dar a vida sentido
Mais amor, mais romantismo
Ser feliz sem eufemismo
É exercitar o sorriso
Por isto acho ser preciso
Viajar, fazer turismo.

TTS - Como você vê a literatura no Rio Grande do Norte?

Um muito por muito pouco
Um pouco por quase nada
Pouca coisa incentivada
Nesse ramo literário
É pobre o nosso cenário
Poucos ligam pra cultura
É rica a literatura
Carece de produção
Hoje nossa educação
Sofre com a conjuntura.

TTS – Poderia nos contar como se deu seu trajetória como empresário na área do turismo e ela influenciou em algum trabalho seu na área literária.

Quando proprietário na área de Restaurantes em Natal (Degust, Brocoió, Liberdade Provisória) tive a oportunidade de ser dirigente da ABRASEL e em função disso haver sido membro do Conselho Estadual de Turismo me aproximando do trade turístico e logo após fui Secretário de Turismo e de uma Fundação Cultural em Currais Novos e face as muitas viagens, aos novos amigos e aos novos desafios, eu passei a exercitar mais a máxima que eu gostava de proferir:

O TUDO, INCLUSIVE O NADA, ME SERVE DE INSPIRAÇÃO

Os versos surgem do nada
É fácil eu me inspirar
Na arte do versejar
O mote surge do a toa
Coisa ruim ou coisa boa
Coisa séria ou coisa em vão
Se toca no coração
A obra é facilitada
O tudo inclusive o nada
Me serve de inspiração

Um amor correspondido
Uma saudade doída
Um abraço, uma despedida
A simpatia, a beleza
A alegria, a tristeza
Um fora, uma ingratidão
Um arroubo de paixão
Lembranças da mulher amada
O tudo inclusive o nada
Me serve de inspiração

Lembranças da minha infância
Meus tempos de molecagem
Na mente formam imagem
E fluem em forma de versos
Também canto meus reversos
Meu cair, superação
As coisas do meu sertão
A seca, a invernada
O tudo inclusive o nada
Me serve de inspiração

Uma bela melodia
Mexe na veia poética
Eu saio buscando métrica
E num instante eu solfejo
Como carícia e beijo
Vejo nascer uma canção
E logo meu coração
Fica de porta escancarada
O tudo inclusive o nada
Me serve de inspiração

Sol, lua, Paisagens
Conversa em mesa de bar
Acontecências do lar
Cenas do cotidiano
Com o sagrado, o profano
Com peleja, discussão
Com briga, com confusão
Coisa certa ou coisa errada
O tudo inclusive o nada
Me serve de inspiração

Se me inspiro, me concentro
Ouço o que o coração diz
Estando triste ou feliz
Tudo pra mim é poesia
É assim meu dia a dia
Busco ser amigo, irmão
Nada acontece em vão
Vivo de alma lavada
O tudo inclusive o nada
Me serve de inspiração.

TTS – Como foi sua infância em Currais Novos (RN)?

Se estou em minha cidade
De novo viro criança
A minha mente se lança
Nas lembranças do passado
Só o ruim fica de lado
Das coisas que fiz e vi
As lições que recebi
Permanecem na memória
Faz parte da minha história
O lugar onde eu nasci
Um peteleco na orelha
Por um malfeito flagrado
Um castigo, um beliscão
Por um gesto mais ousado.
O Branco de uma coalhada
O pretume do escuro
Uma paquera na missa
Namoro de pé de muro
O queijo, a raspa do tacho
O meu avô, minha avó
O Voar de Uma Asa Branca
O canto de um Curió.
Uma coberta de algodão
Um chinelinho de dedo
Um arroubo de coragem
Uma pitada de medo
Um tiro de baladeira
Uma pedrada zunindo
Um sai pra lá meninada
Um vem pra dentro menino.
Um timbungar em um poço
A correnteza, o rio
O possuir-se em desejo
De um moleque no cio.
Um bêbado fazendo graça
Moleque correndo atrás
Menina pensa que é moça
Se enxerindo pro rapaz.
Um preto velho descalço
O caminhar na procissão
O repicado do sino
O vigário, o sacristão.
Sermão de todo domingo
Uma beata profana
O debulhar de um rosário
Nossa Sra. Santana
Voltando as minhas origens
Me farto de alegria
Um misto de melancolia
De saudade e gratidão
Me invade o coração
Na mente forma imagem
Como fazendo homenagem
Ao que vivenciei
Jamais eu esquecerei
Meus tempos de molecagem.


TTS – Tem algum projeto para o futuro em andamento?

Sim. O Projeto Cordel Mil, que objetiva despertar o gosto pela leitura, formar estudantes mais críticos e com maior coerência interpretativa. Criando CORDELTECAS em escolas e locais públicos, objetivando oportunizar aos iniciantes da leitura um acervo de obras literárias em cordel sobre os mais variados temas, buscando sempre ampliar conhecimentos, a capacidade criativa e despertar interesse sobre a cultura local, monumentos históricos e naturais, para que floresça o interesse de conhecê-los e preservá-los.

TTS – A pousada do Cruzeiro, que fica em Currais Novos, oferece quais vantagens para quem quer visitar a cidade?

Dada a sua localização privilegiada, de um lado um sol poente, do outro uma lua cheia e localizado entre a Pedra do Cruzeiro e a cidade, além de um pequeno museu e da tranqüilidade que emana encanta e inspira qualquer visitante...

Nas quebradas do Sertão
Eu, uma varanda, e uma rede
Após matar minha sede
Com uma cerveja gelada
A minha alma encantada
Com uma ave que gorjeia
E no seu canto fraseia
Uma canção comovente
De um lado um sol poente
Do outro uma lua cheia

Voos de aves de arribação
Sons de pardal, sabiá, concriz
Abusa de cada matiz
Descortinando o seu reinado
Um sol que mostra o seu valsado
Ao som do que o vento flauteia
Um bando de garças permeia
Em retirada dolente
De um lado um sol poente
Do outro uma lua cheia

Lindos os tons misturados
De vermelho e amarelo
Indescritível o belo
Surgido desta paisagem
É como se fosse uma homenagem
Minha mente atônita vagueia
Será que o sol homenageia
Uma lua já emergente
De um lado um sol poente
Do outro uma lua cheia

Deus foi muito generoso
Com a minha região
Pois dotou o meu sertão
De uma infinita beleza
Agradeço a natureza
Pelas formações rochosas
Únicas, belas, garbosas
É lindo nosso relevo
O que vi falo e escrevo
Em contos, versos e prosas

No meu tempo de criança
Com espírito aventureiro
Era na Pedra do Cruzeiro
Que se fazia escalada
Pra anunciar a chegada
Uma pedra com som de sino
E o primeiro menino
Que chegasse martelava
E como um sino ressoava
Um som alto e cristalino

Talvez pelo som da pedra
Ou pela imponente visão
Havia peregrinação
De gente religiosa
Dizia-se miraculosa
E que prece ali proferida
Sempre era atendida
Se feita em seu sopé
Bastava ter foco e fé
Pra ter a graça recebida

Cada ângulo uma forma
Cada prisma uma visão
Cada silêncio uma oração
Cada oração um pedido
Nada soa descabido
Tudo tem razão de ser
Emoldurando o alvorecer
Este Cruzeiro imponente
Mexe com a alma da gente
Permitindo-nos crescer

Um dique de pegmatito
Mas parecendo um navio
Num oceano vazio
Da caatinga emergindo
Como aos céus pedindo
Graças pro sertanejo
A minha infância eu revejo
Meus olhos choram saudade
Algo de belo me invade
É minha alma em versejo.

TTS – Na sua opinião, como se deve proceder para alavancar o turismo regional?

Turismo se faz com raça
Com força e determinação
Com garra, com união
E com comprometimento
Busca-se o desenvolvimento
Busca-se a sustentabilidade
Busca-se cada afinidade
O diferente, o genuíno
Aí se faz um destino
Rico em singularidade

O Turismo no Seridó
É de vital importância
É rica sua relevância
Para o desenvolvimento.
Buscar o encadeamento
Entrelaçar cada ação
Buscar a afirmação
Com foco no resultado
É destino consolidado
Ganha toda a região

Existem heranças ricas
Deixadas por todo lado
Vêm desde o ciclo do gado
Ao ciclo do algodão
O ciclo da mineração
Tendente a um renascer
A alegria, o bem receber
Que ao nosso povo é inerente
É o que nos torna diferente
Na arte do bem viver

A religiosidade, a fé
A cultura, o artesanato
O amor em cada ato
A nossa gastronomia
Caatingas, arqueologia
É Seridó, é Sertão
É poesia e é canção
É a riqueza do bordado
É o vaqueiro, a festa do gado
É o enaltecer de uma região

Na seca o cinza da caatinga
No inverno, todas as cores
Na gastronomia os sabores
Inerentes à região
Saídos do coração
De quem põe amor no fazer
De quem demonstra seu saber
Nas boas vindas ao visitante
Um povo amável e brilhante
Que sempre faz acontecer

No Cruzeiro o Por do Sol
Ganha mais brilho, mais cor
Onde irradia o amor
De forma mais natural
A música um bem cultural
Que ao nativo é inerente
Flui de forma envolvente
E da seca ela se vinga
E valsando com a caatinga
Mostra um Brasil diferente.


TTS – Poderia falar um pouco sobre a Cidade de Currais Novos para quem ainda não conhece a cidade?

Currais Novos do ciclo do gado
Do ciclo do algodão
Do ciclo da mineração
De um povo simples e ordeiro
Do destemido vaqueiro
Do valoroso agricultor
Terra do minerador
De uma forte gastronomia
Do bem viver, da alegria
Da amizade e do amor

Rica em arte e cultura
De um povo autêntico e verdadeiro
Alegre e hospitaleiro
Amante do bem servir
É desde o seu existir
Uma Progressista cidade
Terra da prosperidade
Orgulho do Seridó
Nascida no Totoró
Berço da felicidade.

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