Se
tivesse sido dirigido por Donald Petrie
("Miss Simpatia") ou Roger Kumble ("Tudo para Ficar com Ele"), "Voando Alto" seria só ruim, como a
maioria das comédias românticas ligeiras hollywoodianas - e nem é o caso de
desprezar totalmente o gênero, que já nos deu ótimos filmes como "Harry e Sally", "Uma Linda Mulher" e "Quatro Casamentos e um Funeral".
O
problema é que "Voando Alto"
("View from the Top"), filme
hollywoodiano dirigido pelo brasileiro Bruno
Barreto, traz piadas sem graça, agradando apenas aqueles que gostam de
viajar.
É
o mesmo Bruno Barreto que comandou
"Dona Flor e Seus Dois Maridos"
(1976), um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional, e "O Que É Isso, Companheiro" (1997),
sobre episódio importante da história recente nacional. É também o mesmo Bruno Barreto que é o primogênito do
clã Barreto, que influencia o cinema local há décadas, formado pelo Luiz Carlos, Lucy e o caçula Fábio.
Julgado
apenas por seu resultado, "Voando
Alto" é mediano. Conta a história de Donna Jensen (Gwyneth Paltrow), menina do interior
que se cansa de sua vida de perdedora, com a mãe ex-dançarina de boate no
quarto marido, e tenta carreira como comissária de bordo, depois de se inspirar
pela vida de Sally Weston (Candice
Bergen), uma espécie de Lair Ribeiro das comissárias de bordo. No caminho,
conhece e se apaixona por Ted (Mark
Ruffalo), que vai complicar tudo.
Pode
até faltar alma, mas tem lá seu lado bom. Meia hora passada, e o espectador se
vê torcendo mais pelo fim do filme do que para que a incansável corrida de
Donna rumo ao sucesso e ao amor perfeito dê certo. O roteiro do novato Eric Wald é tão esquemático e
previsível que parece tirado de um curso de cinema em dez lições. E Gwyneth Paltrow está burocrática,
parecendo contrariada (disse a mídia que a atriz se referia ao filme como
"View from my Ass",
"vista da minha bunda", pelo figurino exíguo).
Julgado
como um filme dirigido por um cineasta brasileiro, "Voando Alto" é um espanto. Daria um prato cheio para
psicanalistas, por sua luta em parecer mais norte-americano que o mais
norte-americano dos norte-americanos e em não revelar NENHUM detalhe de sua
origem tropical, um vício que acomete alguns patrícios que se expatriam nos
EUA, onde Bruno Barreto vive com a
mulher, a atriz Amy Irving, e os
filhos há alguns anos.
Para
não dizer que foi tudo em vão, dois aspectos seguram o filme. O primeiro é a
trilha sonora, propositadamente brega no último, com "Don't Stop Believing", do Journey,
"Living on a Prayer", do Bon Jovi, arranjos de "Time After Time", e outras.
O
outro é a participação infelizmente pequena de Mike Myers (de "Austin
Powers") como um instrutor impossivelmente estrábico. De chorar de rir
suas micagens e a fotomontagem de sua prateleira, que traz fotos do personagem
com outros vesgos famosos, como Marty
Feldman, Peter Falk e Sammy Davis Jr.
Voando Alto
View
from the Top
Produção: EUA, 2003
Direção: Bruno Barreto
Com:
Gwyneth Paltrow, Mark Ruffalo, Mike Myers, Christina Applegate
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